Um dos livros nacionais mais elogiados pela crítica nos últimos anos, Pornopopéia, de Reinaldo Moraes, além de ter um grande valor literário, também é uma grande diversão para o leitor – e sabemos que quando algum livro agrada aos críticos, muitas vezes ele é um porre para os míseros mortais, não é mesmo!?
Como o nome já indica, a história é praticamente uma epopeia pornográfica. A obra é dividida em duas partes. A primeira, de uma intensidade fantástica, com cenas, cenários e diálogos muito bem trabalhados, passa-se na cidade de São Paulo. Ou melhor, em uma espécie de submundo da metrópole. O personagem principal é Zeca, um anti-herói que cativa o leitor já no começo do texto. O cara bebe, fuma, cheira, não é nem um pouco chegado a trabalho, não está nem aí para a esposa, mostra raras preocupações pelo filho, não desperdiça nenhuma oportunidade de comer uma mulher, vive passando a perna no cunhado e, ainda assim, é extremamente carismático, surpreendentemente humano.
Tal estilo de vida acaba envolvendo Zeca em uma série de complicações, e aí que a história em si começa a realmente se desenrolar. Após uma intensa noite de bebedeira, sexo e muito nariz na farinha, o protagonista resolve passar uma temporada em Ubatuba – e aqui chegamos na segunda parte da obra. Vai para o Litoral para espairecer sobre alguns problemas pontuais, mas lá descobre que sua vida está muito mais complicada do que poderia supor.
Na praia, desacelera. Durantes algumas semanas, leva uma vida bem mais tranquila, longe do pó, tomando apenas alguns gorós e fumando poucos baseados. Começa a curtir o estilo de vida praiano, enquanto a sua vida só piora em São Paulo. Contudo, a necessidade de sexo acaba fazendo com que Zeca arrume confusões – e, durante algum tempo, soluções – também em Ubatuba.
Atualmente, qualquer livro repleto de sexo, drogas e com a história completamente focada em um ponto de vista bastante masculino (que beira o machismo) é automaticamente comparado às obras de Bukowski. Com Pornopopéia não é diferente. Contudo, enquanto o Velho Safado atingia o seu ápice em rapidinhas (contos), Reinaldo Moraes domina com maestria a arte do sexo tântrico, e mantém a relação – nem sempre ereto, é verdade, mas ainda assim mostrando presença – ao longo de 660 páginas.
Em alguns momentos a lembrança de Nelson Rodrigues também é inevitável, principalmente quando relacionamentos “proibidos” ocorrem. Há passagens deste tipo, inclusive, nas quais Moraes utiliza um vocabulário próximo ao do Anjo Pornográfico (o famoso ululante, por exemplo). Talvez isso não seja apenas uma coincidência, mas um exemplo do domínio que o autor tem do texto, que levou anos para ficar pronto.
O final de Pornopopéia poderia ser um pouco melhor, contudo isso está longe de ser um problema em um livro que nos brinda constantemente com passagens do tipo. “Lá vai a tarde entrando em preguiçosa agonia no horizonte líquido desse lugar comum à beira-mar. Olha só que poesia tem essa frase. Má poesia, mas poesia assim mesmo. Eu conseguiria viver sem poesia. Aliás, eu vivo sem poesia, Não conseguiria é viver sem buceta. E estou vivendo sem buceta”.
No lugar de Machado de Assis, José de Alencar, Guimarães Rosa ou Graciliano Ramos (como fazem – ou ao menos tentam – as escolas), dê Pornopopéia na mão de um moleque de 15, 16 ou 17 anos. Quero ver se ele não se apaixonará por Literatura.
Livro: Pornopopéia
Autor: Reinaldo Moraes
Editora: Objetiva
Páginas: 660
Tive a oportunidade de assistir um bate-papo com Reinaldo Moraes e Mario Prata há mais de um ano na Livraria da Vila e me encantei com o jeito do autor de Pornopopéia. Ele falou um pouco sobre a obra, mas o bastante para me deixar interessada. Só que ainda não li. Depois da sua resenha, a vontade ficou mais aguçada. Vou tentar incluir nas minhas leituras o mais rápido possível, o que significa ainda este ano. Se pelo menos eu conseguisse ler mais velozmente…, mas aos poucos chego lá. Bjs.
Cecília, leia! O livro é grande, mas muito envolvente. Bjs
[…] de Mariana Collares, Fahrenheit 451 em quadrinhos, de Ray Bradbury e Tim Hamilton, o grande Pornopopéia, de Reinaldo Moraes, Tive uma ideia!, de Monica Martinez, Adeus, China, de Li Cunxin, O Safári da […]
Vou na página 400 e picos e nao consigo parar de ler. O ponto de vista é extremamente machista e homófobo mas nao é justo criticar um livro escrito na primeira pessoa pelos pecados do protagonista/narrador.
Concordo, Carlos. Podemos até criticar as ideias do personagem que é o narrador, mas não podemos cair no erro (bastante comum) de pensar que as posições dele são as mesmas do autor. É um excelente livro!
Eu ACABEI de ler o livro e achei simplesmente fantástico! O Zeca é praticamente meu amigo já hahaha eu tô quase indo pra Paraty ajudar ele e aproveitar e pedir pra ele me passar o endereço do Bitch! hahaha Quem sabe lá eu encontro o Nissim e a Gaúcha pra contar metade das historias que o Zeca me falou nessas duas semanas ou mais que ele passou fora de sampa!
agora de vdd, o livro é MUITO bom, tem uma dinâmica incrível e eu realmente ADOREI lê-lo! Se eu pudesse eu daria meus parabéns pessoalmente ao Reinaldo, o cara arrebentou no livro! MUITO bom
[…] de 1985. Depois disso, ouve um grande hiato até que o escritor publicasse o seu terceiro romance, Pornopopéia, de 2009, uma das obras mais elogiadas dos últimos anos na literatura nacional. Não que tenha […]
Me lembra muito o Phillip Roth, aliás o autor cita e curte o “Complexo de Portnoy”, até hoje o livro mais legal que já vi. E Pornopopéia não fica atrás (epa), e é muito maior, a diversão dura mais tempo.
[…] Veja aqui a entrevista que fizemos com Reinaldo Moraes e a resenha de Pornopopéia. […]
Um dos livros mais divertidos que li ao longo da minha vida!Li-o avidamente e,confesso,deixou-me um vazio,também literário, que receio jamais poder ser preenchido.Ao inefável Reinaldo Moraes o meu eterno agradecimento do outro lado do Atlântico.