Por Rodrigo Casarin
Durante muito tempo foi – e ainda é – bastante comum vermos livros virarem jogos, normalmente passando antes pelo cinema. Assim aconteceu com as séries Harry Potter e Senhor dos anéis, para ficarmos em apenas dois exemplos bastante conhecidos e recentes. Contudo, ultimamente temos visto o caminho contrário sendo percorrido. Jogos de franquias como Assassin’s Creed, God of War e Diablo ganharam primeiro as plataformas de videogames para depois serem transpostos para as páginas impressas e chegarem às prateleiras de livrarias.
No Brasil, esse fenômeno é bastante recente, começou nesta segunda década do século XXI, e acompanha um movimento que já vinha acontecendo há algum tempo nos Estados Unidos. Jogos estão virando livros porque “estão mais sofisticados, com roteiros bem amarrados e complexos”, diz Ana Lima, editora executiva do selo Galera, braço para títulos juvenis da editora Record e maior responsável pela publicação de versões de games para livros no Brasil. São deles títulos como World of Warcraft, Battlefield 3 e Assassin’s Creed (vejam mais detalhes das obras abaixo).
A publicação dessas obras, que normalmente fazem grande sucesso com o público, apenas segue o crescimento que o mercado de games vem tendo no país. São livros que permitem ao jogador ampliar a relação com seus jogos favoritos por meio de uma experiência diferente da proporcionada pelos videogames (a leitura, no caso). “Esses livros funcionam como parte do universo expandido do game. Por meio deles, o leitor poderá conhecer melhor um personagem ou evento específico dos jogos. Os livros não relatam exatamente o que acontece no jogo, por isso são interessantes”, explica Ana.
A declaração da editora executiva do selo Galera encontra eco na “Nota do Autor” de Battlefield 3 – o Russo, escrito por Peter Grimsdale em parceria com Andy McNab, que participou de toda a elaboração do jogo como consultor – era o responsável para que o enredo e os detalhes do campo de batalha ficassem verossímeis. “O jogo é apenas uma das partes para toda a experiência que é BF3 – e este livro é outra. Pareceu uma sequência natural escrever um romance que complemente o jogo, já que ainda havia muita história para contar […]. Este livro dá ao leitor a oportunidade de ver as coisas do ponto de vista dele [Dmitri “Dima” Mayakovsky, protagonista da trama] e de talvez entender as decisões e atitudes de Dima quando ele se encontra nas situações mais improváveis”, escreve McNab na nota.
Apesar do autor e da editora defenderem a relevância do trabalho para que haja um maior aprofundamento na história do jogo, nem todos os leitores enxergam dessa maneira. O redator e analista de comunicação Eder Martins, de 31 anos, conta que esperava uma simples transposição do jogo para o livro quando resolveu ler Assassin’s Creed – Renascença. “Como me baseei nas terríveis adaptações de jogos para o cinema, criei uma expectativa bastante baixa”. Isso fez com que Martins se surpreendesse ao ler a obra, ainda que tenha uma visão bastante crítica sobre ela. “Para quem é fã do jogo, o livro é ótimo; para quem quer somente ler para passar o tempo, também; agora, para quem busca uma leitura mais séria, não vale a pena. Apesar da grande fidelidade ao jogo, não há complexidades nem retratos tão profundos de um período histórico, o que poderia ter sido trabalhado e deixaria a obra menos rasa”, argumenta.
Talvez sejam títulos realmente destinados àqueles que já são fãs dos respectivos games. Em uma leitura rápida de algumas obras, a impressão que fica é que os autores diversas vezes tentam transpôr para as letras a constante ação que muita gente espera de um jogo de videogame. Para continuarmos no exemplo da série Assassin’s Creed, é difícil encontrarmos nos livros algum trecho significativo que não esteja permeado por cenas de violência, o que pode ao mesmo tempo atrair quem quer algo bastante próximo ao game e afastar aqueles que esperam que um livro permita momentos de introspecção e reflexão, por exemplo. Contudo, o veredito final sobre a importância dessas obras sempre será, ao menos em um primeiro momento, sempre do leitor.
Assassin’s Creed
É a série com o maior número de adaptações para livros, seja em formato de narrativa convencional, seja por meio de quadrinhos. As narrativas em prosa são assinadas por Oliver Bowden, pseudônimo de um escritor e historiador do Renascimento, e, tais quais nos jogos, levam o leitor à Itália renascentista (em Renascimento), a Roma comandada pela família Bórgia (em Irmandade), ao Império Otomano (em Revelações), Constantinopla (em A cruzada secreta), à Era de ouro da pirataria (em Bandeira negra) e à Guerra de Independência dos Estados Unidos (em Renegado).
Diablo III
A antiga série Diablo virou livro quando o game chegou a sua terceira edição. Diablo III – a ordem traz a história de Deckard Cain em busca dos membros perdidos da ordem Horadrim, da qual faz parte e supostamente é o último sobrevivente. O grande objetivo é salvar o Santuário onde a história se passa, em uma época anterior à retratada no jogo, das forças demoníacas do Inferno Ardente. Já Diablo III – Livro de Cain é uma espécie de edição ampliada e de luxo do primeiro livro, que acrescenta à história elementos e segredos até então inéditos.
God of War
O livro homônimo à série traz a história que deu origem ao jogo, buscando detalhar o passado de Kratos, guerreiro que trabalha para os deuses do Olimpo e, após alguns entreveres, foca a sua vida em conseguir matar Ares, o deus da Guerra. Já no segundo livro, God of War 2, Kratos continua com suas vinganças. Dessa vez, o objetivo é aniquilar Zeus, o deus maior. Bem como o jogo, os livros são recheados de influências da mitologia grega.
World os Warcraft
A franquia World os Warcraft conta com três livros lançados no Brasil. Marés da guerra é protagonizado pela feiticeira Jaina Proudmore, que luta pela improvável paz entre a Aliança e a Horda e prepara o jogador para a expansão do jogo Mists of Pandaria. Em Sombras da Horda, o foco está sobre Vol’jin, que, refugiado em um monastério para se recuperar de ferimentos, não percebe que uma série de ataques estão sendo planejados pela tribo Zandalari em Pandária. Por fim, em Ruptura, Thrall, xamã e chefe guerreiro de Horda, precisa descobrir o que acontece de errado com os espíritos elementais e as forças sensíveis da terra para prevenir uma catástrofe que está por vir.
Uncharted
EmUncharted – o quarto labirinto, o corpo de um arqueólogo e especialista em labirintos mitológicos é encontrado esquartejado dentro de uma mala em Nova Iorque. Então, um de seus melhores amigos, Victor Sullivan, pede ajuda ao caçador de tesouros Nathan Drake e, junto de Jada, filha do arqueólogo morto, vão em busca de desvendar o assassinato e descobrem que o crime está profundamente ligado aos misteriosos labirintos da antiguidade.
Battlefield
Battlefield 3 – o russo se passa em uma União Soviética caída, dividida por oligarquias, máfias e políticos corruptos. Ogivas nucleares caem nas mãos de perigosos terroristas e cabe a Dima Mayakovsky detê-los e recuperá-las sem que informações sobre o que está acontecendo cheguem aos ouvidos dos estadunidenses.
Texto publicado originalmente na edição 150 da revista EGW.
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