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Posts Tagged ‘Carolina Munhóz’

Por Fred Linardi

É preciso deixar a ingenuidade de lado para ler o comentado livro Geração Subzero. Não que essa coletânea de contos seja exigente demais para uma leitura qualquer – muito pelo contrário. Cabe então explicar o grande mote por trás desse livro organizado pelo escritor e professor de literatura Felipe Pena que, incomodado com automática (e muitas vezes cega) canonização de autores por parte dos críticos, aceitou o desafio de fazer jus a outros “autores congelados pela crítica, mas adorados pelos leitores”.

Eis aí o que pode ser o primeiro problema. Num país cujo gosto pela cultura ainda precisa se amadurecer, como podemos observar na música e nas bilheterias de cinema – para citar os gêneros mais populares do país – como lançar foco nos autores favoritos dos leitores? É o mesmo que dar mais atenção aos lixos instantâneos que tocam nas rádios só porque já vemos crítica suficiente em torno dos discos dos artistas clássicos da MPB. O que dizer, então, sobre a literatura?

Mas aí – mais uma vez – não podemos ser ingênuos, pois existem muitos talentos que mereceriam ser comentados pelos críticos e que, por algum paradigma midiático ou acadêmico, acabam ficando de escanteio. Pois debruçar-se diante de uma literatura que não vibra na forma e na linguagem apreciada por estas panelinhas, é arriscar-se a sujar toda a credibilidade almofadinha com as chicletosas amarras do popular. Falta coragem para dar a tapa à cara, alerta Pena no texto de introdução do livro.

O grande trunfo desta necessária provocação canônica levantada pelo Geração Subzero é o debate principalmente em torno desta desvalorização pelos livros cuja literatura tem a simples ambição de entreter e, consequentemente, formar novos leitores – o que é algo valioso para o Brasil. E realmente não há problema algum em literatura de entretenimento, por mais subjetivas que sejam suas medidas.

Dilemas acadêmicos e manifestações à parte, cabe pensar sobre a visão um pouco turva em torno desta aparente meritocracia – o poder dado em virtude do mérito. Se, por um lado um crítico dedica uma valiosa página de jornal para sempre-os-mesmos, pesar o outro lado da balança baseando-se no número de leitores pode ser um tiro saindo pela mesma culatra.

Portanto, Geração Zubzero acaba se firmando dentro de uma dualidade que, mesmo tentando nos distanciar dela, acaba por ser inevitável: vestir nesses autores a roupa de injustiçados congelados ou o uniforme de super-heróis que se destacam acima de qualquer nível de abandono?

Preferi esta segunda visão ao ler as mais de trezentas páginas ocupadas pelos 20 contos assinados por escritores como André Vianco, Thalita Rebouças, Eduardo Spohr, Eric Novello, Martha Argel e Estevão Ribeiro, entre outros. São nomes que, apesar de tudo e de todos, conseguem o reconhecimento de leitores de um país com uma ínfima taxa de leitura e que, por isso, merecem estar reunidos numa coletânea como essa. E conseguem ainda mais do que isso: como anuncia antes dos contos, suas biografias são repletas de livros publicadas por diversas editoras, inclusive com representativo número de vendas em alguns casos.

E foi aí que eu fui pego pela minha própria ingenuidade. Imaginava que me deleitaria em ler aquilo que os jornais deixaram passar em branco e que seriam páginas tratadas com grande estima, pela simples oportunidade de um escritor ser parte de uma seleção de tanta força. No entanto, nem sempre é isso que acontece.

A liberdade editorial, por mais atraente que seja em termos de manifesto, acaba por ser uma forma de quebrar a unidade da obra. Segundo explica no início do livro, a seleção dos autores foi baseada em suas observações em nomes que ganhavam mais comentários em mídias sociais, blogs e salas de aula; sendo que a escolha dos contos foi sem arbitrariedades estéticas, já que não se tratava de sobrepor o próprio gosto, mas sim de “traduzir as escolhas dos leitores leigos, mesmo que elas contrariassem meus próprios juízos de valor”, explica Pena, assumindo seu delicado papel em algumas ocasiões.

Pois bem, é impossível terminar o livro totalmente satisfeito (é ingenuidade, mais uma vez, achar que o resultado seria diferente?). Pois entre o realismo em excesso de alguns contos e a fantasia de outros – envolvendo zumbis, cavaleiros medievais, fadas e dragões – é difícil agradar a todos.

Mas não é só isso. Apesar de todos os autores demonstrarem o talento para as letras, alguns textos parecem mostrar que falta um pouco mais para atingir de fato o difícil patamar do entretenimento de qualidade. Se considerarmos o preceito que escrever bem é escrever de maneira simples, não é preciso ficar na tentativa de demonstrar a própria genialidade – impressão que infelizmente aparece em alguns momentos do livro – e que vejo como mais um argumento da importância que a crítica deveria dar a esses autores: se analisados anteriormente por bons críticos, talvez não caíssem mais neste e em outros vícios tão primários da escrita.

É mais justo, no entanto, destacar os pontos altos desse livro, que estão exatamente nos contos que não tentam chamar a atenção pela excepcionalidade, sem se deixar cair no simplismo de enredo e temática. Entre outros que também mereceram estar nesta seleção, vale mencionar o desempenho de Martha Argel, Pedro Drummond, Juva Batella, Thalita Rebouças e Delfin.

O grande mérito do livro é ser mais um título que pensa fora das panelas da alta esfera literária, considerando que qualquer um pode gostar de ler. É exatamente essa consciência e respeito que falta nos representantes culturais do país, muitos dos quais produzem para si e para os que consideram seus semelhantes. Se houver um segundo volume, como se indaga Pena ao apresentar este livro, será uma continuidade bem-vinda em torno deste rico assunto.

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Acontece amanhã, dia 17, a partir das 19h, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na avenida Paulista, em São Paulo, o lançamento de Geração SubZero – 20 autores congelados pela crítica e adorados pelos leitores. Organizado por Felipe Pena, doutor em Literatura pela PUC-Rio, o livro é uma coletânea de contos de escritores que se dizem à margem da grande cena literária – praticamente não estão presentes em mesas da Flip, nas páginas da Granta, em resenhas do Rascunho ou nas relações dos grandes nomes de sua geração, por exemplo.

Os autores que fazem parte do livro são: Eric Novello (que já foi entrevistado e teve livro resenhado aqui no blog), Thalita Rebouças, André Vianco, Eduardo Spohr, Raphael Draccon, Carolina Munhóz, Ana Cristina Rodrigues, Juva Batella, Estevão Ribeiro, Pedro Drummond, Luiz Bras, Luis Eduardo Matta, Sérgio Pereira Couto, Delfin, Julio Rocha, Helena Gomes, Vera Carvalho Assumpção, Martha Argel, Janda Montenegro e Cirilo S. Lemos.

Confira abaixo o book trailer da obra:

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