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Posts Tagged ‘Ivana Arruda Leite’

IvanaDepois de passar por distintas fases, Ivana Arruda Leite não sabe porque escreve. Mais que isso, fará dessa falta de resposta o mote de seu próximo romance. A mestre em Sociologia pela USP que nasceu em 1951, em Araçatuba, é autora de obras como Falo de mulher e Ao homem que não me quis, de contos, da novela Eu te darei o céu – e outras promessas dos anos 60 e dos romances Hotel novo mundo e Alameda Santos. Também escreve livros infantis e infanto-juvenis e vê alguns de seus trabalhos sendo publicados em no exterior. A escritora fala disso e de diversos outros assuntos na conversa que tivemos com ela.

Canto dos Livros: A revista alemã Die horen publicou dois contos seus. Quais contos são esses? Do que eles tratam?

Ivana Arruda Leite: Os contos são “Receita para comer o homem amado” e “O sabonete das estrelas”. O primeiro é do meu livro Falo de Mulher, o segundo, do Ao Homem que não me quis.

CdL: O que significa ser publicada numa revista estrangeira? Como conseguiu essa publicação?

IAL: Essas publicações (além de antologias no México) são reverberações da feira de Frankfurt, que jogou luz sobre autores brasileiros. Apesar de não ter ido à feira, fui publicada na revista bilíngüe Machado de Assis, da Câmara Brasileira do Livro, e ela me levou a outras publicações.

CdL: Por que você escreve?

IAL: Se você me fizesse essa pergunta há quarenta anos eu diria “escrevo porque a literatura é a minha vida, o meu meio de expressão pra chegar às pessoas. Através dela eu consigo organizar meus sentimentos, minhas idéias e botar pra fora todo meu torvelinho interior. Sem a literatura eu morro”.

Se você me fizesse essa pergunta há dez anos eu diria: “escrevo pra chegar às pessoas, emocioná-las com minhas histórias, fazer com que elas se identifiquem, tenham um pouco de conforto e consigam rir de si próprias”.

Hoje você me pergunta e eu não tenho resposta.

Durante anos escrevi pra me curar ou curar as pessoas. Esvaídos esses propósitos, busco um sentido para a escrita e a resposta para a sua pergunta.

CdL: Do que tratará seu próximo romance?

IAL: Justamente disso. Meu próximo romance conta a história de um escritor cinqüentão, boa pinta, sucesso de público e de crítica em crise com a literatura. De repente ele se dá conta que a vida fora dos livros é muito mais rica e bonita do que a artificialidade que ela ganha ao “virar” literatura. Depois de conseguir fama, dinheiro, prêmios e mulheres, ele se pergunta: escrever pra quê? Essa é a pergunta.

CdL: Você tem livros escritos para públicos de diversas idades. O que muda na hora de escrever um infanto-juvenil e um adulto, por exemplo?

IAL: Muda a temática e a linguagem. Tanto uma quanto outra devem se adequar aos pequenos. Eu acho muito mais fácil e divertido escrever pra crianças. Pena que essa que não seja minha vocação primeira. Os livros infantis são raros de acontecer e geralmente surgem para atender uma encomenda.

CdL: Até quando você acha que teremos a cultura do politicamente correto na produção infantil e infanto-juvenil?

IAL: Infelizmente, por muito tempo. Parece que o politicamente correto chegou pra ficar. Pior que o politicamente correto é a briguinha entre os dois partidos. Os corretinhos vendo os incorretos como preconceituosos escrotos, fascistas e reacionários; os incorretos vendo os corretinhos como babacas imbecis. Ai que preguiça…

CdL: Você já declarou que considera a narrativa no estilo “diário” um forte atrativo para o público jovem. Como você trabalha esse tipo de texto pra que ele não fique raso e/ou meramente anedótico?

IAL: Eu só tenho um livro no estilo diário, é o Confidencial – anotações secretas de uma adolescente. Como ele foi feito com base nas vivências com uma sobrinha muito querida de quem eu sempre fui muito próxima, eu tinha material para aprofundar questões polêmicas como sexo, drogas, brigas com os pais, etc. Apesar do humor (sempre presente nas minhas obras), o livro não ficou raso nem anedótico.

CdL: Você costuma citar Kafka e Julio Cortázar como suas principais influências na produção de contos por causa da concisão. Na sua obra, a busca pela concisão é uma escolha estilística ou, pra você, ser conciso é um pré-requisito para um bom conto. Por quê?

IAL: As duas coisas. Pra mim, a concisão é uma escolha por considerá-la um pré-requisito para o bom conto. Mas entenda: concisão não quer dizer necessariamente conto curto. Um conto pode ser imenso e ser conciso. Concisão é a qualidade do que não excede, não se estende em demasia, não enrola, não escreve em dez linhas o que pode ser dito em duas, segue rente ao osso. Essa será sempre minha escolha estilística.

CdL: O seu livro Eu te darei o céu é dedicado ao Joca Reiners Terron. Qual importância ele tem na sua carreira?

IAL: Eu vivia contando meus “causos” dos anos 60 nas rodas de cerveja da Mercearia [São Pedro, famoso ponto de encontro de escritores em São Paulo] e o Joca vivia insistindo pra que eu escrevesse sobre isso. Quando finalmente resolvi colocar minhas memórias adolescentes no papel, nada mais justo do que dedicá-las a quem me incentivou a fazê-lo. Fora isso, o Joca é um ótimo conselheiro e vive me dando palpites certeiros. Tonta sou eu que não os sigo à risca.

CdL: Você vivenciou diversos períodos emblemáticos na história do país e no mundo, como a Ditadura e a censura militar, o fim da polarização da guerra fria, o advento da internet. Em qual medida a experiência destas mudanças te afetou como escritora?

IAL: Essas mudanças me afetaram como pessoa. Nasci em 51. Cresci na efervescência psicodélica dos anos 60, passei a juventude sob o tacão da ditadura, dancei muito ao som do primeiro compacto dos Beatles, fui macaca de auditório do Roberto Carlos, saí à rua sem lenço e sem documento. Sou cria da televisão. Como passar imune a tudo isso? Claro que este universo acaba constituindo a pessoa que eu sou e a escritora que eu me tornei. Não há como fugir da própria história.

CdL: Qual a sensação ao ler algum texto seu escrito há muito tempo? Qual Ivana você enxerga nele?

IAL: Quando releio minhas primeiras publicações às vezes eu me surpreendo (poxa, que conto legal, eu não sabia que ele era tão bom); às vezes eu torço o nariz (poxa, que pena, se eu tivesse me dedicado um pouco mais, ele ficaria bem melhor); às vezes eu me arrependo (poxa, por que não joguei esse conto no lixo?)

CdL: O empoderamento feminino é um tema que vez ou outra aparece em sua obra. Como você enxerga essa questão na literatura atual? Acha que ainda há resistência a temáticas sobre as “minorias”?

IAL: Não acho não. Até porque as mulheres não são minoria há muito tempo. Nos meus contos você nunca vai encontrar a mulher coitadinha. Pelo contrário, elas são bravas, são loucas, se vingam e dão um jeito de saírem vitoriosas. Na real, o fato de ser mulher não faz de mim um ser especial com direitos e privilégios que os homens não mereçam. Somos todos igualmente desgraçados, homens e mulheres.

CdL: Durante sua carreira, houve mudanças em relação ao reconhecimento das mulheres escritoras? Se sim, quais? São necessárias mais mudanças, ou o status do escritor independe do gênero sexual?

IAL: O status do escritor independe do gênero.

CdL: Certa vez você disse que sonhava em viver de literatura. Como anda a busca por esse sonho?

IAL: Depois de trinta longos e árduos anos de trabalho, hoje sou funcionária pública aposentada e tenho a sobrevivência garantida até o fim dos meus dias. Não preciso da literatura pra viver. Aleluia!!!! E aí volta a pergunta: escrever pra quê mesmo? 

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Fonte: http://terracotaeditora.com.br

O Encontro Prática de Escrita acontece informalmente desde 2001, mas há cinco anos o evento ganhou periodicidade e formato e vem se tornando parte da agenda de quem gosta de literatura.

O principal objetivo do encontro é reunir pessoas que não só apreciam a literatura, mas também tudo que circunda a prática de escrita literária.

A programação é dividida em dois tempos, o primeiro gira em torno das mesas com palestrantes, que discorrem sobre assuntos que permeiam o universo literário; o segundo tempo é das oficinas de estudo e criação.

A primeira parte da programação terá como convidadas só mulheres. Na primeira mesa, a escritora Ivana Arruda Leite bate um papo sobre sua obra com a roteirista e escritora Luciana Penna. Na segunda mesa, as escritoras e professoras de criação literária Monica Martinez e Nanete Neves conversam sobre caminhos e possibilidades da escrita como profissão, mediadas pela redatora, blogueira e revisora Lu Reis.

Na segunda parte, temos oficinas com Bruno Cobbi, Kizzy Ysais, Marcelo Maluf e Pête Rissatti.

Este ano o evento acontece em 3 de março de 2012, no campus Liberdade da Universidade Cruzeiro do Sul.

Organização: Claudio Brites e Carlos Andrade

Quando: 3 de março de 2012.

Horários: mesas das 9h45 às 12h30 e oficinas das 13h45 às 16h30

Onde: Universidade Cruzeiro do Sul – campus Liberdade – Rua Galvão Bueno, 868 (próximo ao metrô São Joaquim)

Inscrições: Clique aqui

Entrada Franca

Programação

Mesa 1 – das 9h45 às 11h
A prática de criação de Ivana Arruda Leite
Convidada: Ivana Arruda Leite
Mediação: Luciana Penna

A escritora fala sobre sua obra e como se dá seu processo de criação. Quais são os percalços que envolvem a realização do conto, do romance, do infanto-juvenil. Dando dicas sobre editoras, culinária e séries de televisão.

Mesa 2 – das 11h15 às 12h30

Profissão escritor

Convidados: Monica Martinez e Nanete Neves
Mediação: Lu reis

As escritoras e professoras de criação literária Monica Martinez e Nanete Neves falam sobre o mercado editorial para o escritor: biografias, livros institucionais, ghostwriter, oficinas. Como as coisas caminham e como é a realidade de quem vive da escrita literária.

Oficinas de Criação literária – das 13h45 às 16h30

Narrativa Multimídia
com Bruno Cobbi

Partindo de estudos de casos nacionais e estrangeiros que transcendem seus canais originais, o publicitário e escritor Bruno Cobbi vai guiar os participantes entre referências em livros, quadrinhos, internet, games e cinema para debater como as novas mídias estão mudando nossa forma de encarar o mercado e produzir arte.

As discussões sobre a produção multimídia dentro e fora do país são combinadas com exercícios para prática do raciocínio narrativo e exploração da multimídia. A oficina visa materializar não só o planejamento como produções de narrativas em multimídia.

A criação do personagem

com Kizzy Ysatis

Este encontro foca no coração da narrativa: os personagens. Seja em um enredo fantástico ou realista. Grandes personagens vão além de seu criador. Polifônicos, infinitos. O que faz Dom Casmurro ficar na memória por tanto tempo? Quais são os elementos que fazem com que o leitor chegue a acreditar que um vampiro, ou uma entidade fantástica possa existir? Criando fã clubes para um ser ficcional, por exemplo. Neste encontro, o escritor Kizzy Ysatis revela seus segredos para construção de um personagem convincente. Não só as dicas vindas de sua experiência de criador, mas também das leituras, dos autores nos quais se inspira.

Caminhos do Fantástico na literatura infanto-juvenil

com Marcelo Maluf

Grandes obras da literatura infantil e juvenil estão embebidas do elemento fantástico, o autor pretende apresentar nessa oficina possibilidades de uso do fantástico em suas diversas vertentes em textos infanto-juvenis. Apresentando referências e propondo exercícios de escrita para desbloquear o imaginário fantástico. E ainda: o universo fantástico na literatura infanto-juvenil, passando por nomes como: Michael Ende, Roald Dahl, Elsa Bornemann, caminhos de Lewis Carrol, do C.S.Lewis, Neil Gaiman, entre outros.

Tradução: mercado, processos e criação

com Petê Rissatti

A arte/ofício da tradução é muito mais amplo do que se imagina. Com a crescente visibilidade do tradutor, ainda assim a profissão carrega um certo mistério. Neste bate-papo, vamos apresentar as diferenças básicas do mercado tradutório, o dia a dia do profissional, o mercado editorial de tradução e os processos envolvidos. Além disso, também traremos à baila o papel de tradutor como intermediador cultural, a (des)valorização do profissional e, por fim, a legislação e o tradutor-criador.

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